O SANGUE QUE MANCHOU A ESTRADA
O cavalo tombou no pó da estrada, não por fraqueza, mas pelo peso do sol e da jornada. Seu corpo pedia descanso, sua respiração era prece, mas o que recebeu foi o corte da lâmina, a violência que não nasce da fome, mas da ignorância que confunde morte com solução.
Um jovem, chamado Boiadeiro, carregava em suas mãos o facão, e em seus gestos a fúria da brutalidade. Não escutou o silêncio dos olhos do animal, não percebeu o pedido mudo que só os sensíveis escutam: “me deixa ir, me deixa deitar, me deixa ser vento”.
O facão desceu, e junto dele, um pedaço de humanidade se perdeu no chão. O cavalo, criatura antiga e sagrada, que outrora carregava guerreiros e sonhos, agora sangrava diante das câmeras, espetáculo triste de uma época que ainda não aprendeu a cuidar da vida que a acompanha.
As redes sociais ecoaram o grito —não do cavalo, pois ele não fala, mas do humano que ainda se indigna, do humano que reconhece no animal um irmão, do humano que vê no erro um espelho de barbárie.
Bananal, terra de histórias e cavalhadas, agora se mancha com a lembrança amarga: um gesto cruel contra quem só sabia servir.
E fica a lição, dolorida e urgente: a grandeza não está no braço que corta, mas na mão que acaricia; não no grito que esmaga, mas no silêncio que respeita.
Que a memória desse cavalo mutilado seja um marco, não de esquecimento, mas de resistência — para que nunca mais se confunda o sagrado da vida com o descuido brutal da inconsciência.