ENTRE O LABIRINTO E A AURORA
por Jeovan Rangel
Há quem viva esperando certezas. Outros, como eu, aprenderam a caminhar com o imprevisível como companhia. A alma humana — esse labirinto desconhecido e surpreendente — é o que mais me inspira. Não por vaidade intelectual, mas porque há algo de sagrado em tentar decifrar o que habita dentro de nós e dos outros. É nessa travessia que me encontro: entre palavras e silêncios, entre feridas e revelações.
Não temo a morte. Ela é o destino comum de todos os homens. Mas temo o que pode vir antes dela: a decrepitude, a senilidade, a dependência. Não quero ser um peso, nem um prisioneiro da própria vida. Por isso, cuido da minha saúde, da minha rotina, da minha autonomia — não por culto ao corpo, mas por respeito à dignidade de quem vive.
Ainda assim, o que me move de verdade não é o medo, é o mistério. O desconhecimento do futuro me inspira. Gosto das surpresas que a vida traz, mesmo quando elas desmontam os planos. Porque, às vezes, é na quebra que a luz entra. Prova disso é o meu casamento com— Luanna Cronemberger. Um encontro inesperado, emotivo, redentor. Ela chegou como quem não precisava provar nada e, ainda assim, me revelou tudo.
Com ela, e com minha filha Jéssica — minha princesa inquieta de coração gigante — aprendi a amar em camadas. O afeto como profundidade, não como superfície. O cuidado como escolha diária, não como obrigação. Amo intensamente. Sinto profundamente. E sofro também, com o engano, com a traição, quando percebo indiferença e quando erro. Esses momentos me desmontam. Mas não me definem.
Já fui desmotivado por dívidas, por planos que falharam, por dias em que nada parecia funcionar. Mas ainda assim, levanto. Sempre levanto. Porque aprendi que cada dia traz o seu próprio mal, e que enfrentá-lo com presença é mais sábio que tentar vencê-lo com pressa.
Sou um homem em construção. Um analista com alma de cronista. Vivo entre o caos do inconsciente e a beleza dos encontros reais. E se há algo que posso dizer sobre mim, é que caminho com fé — não fé cega, mas fé sensível — na possibilidade de que o amanhã, embora desconhecido, ainda possa me surpreender.
Jeovan Alves dos Santos Rangel; filho de Agenor Alves dos Santos e Zulmira Pereira dos Santos Rangel.
Graduado em Teologia e pós-graduado em Filosofia pela FBB - Faculdade Batista Brasileira, Salvador. Poeta, escritor, professor, teólogo e psicanalista pela Associação Capixaba de Psicanálise. Natural de Brasília-DF, reside atualmente em Porto Seguro,
Bahia, Brasil.