ATÉ NO ERRO, A COMPETÊNCIA SALVA
Errar não é apenas inevitável: é ontológico. O humano habita o risco, é intrinsecamente falível. Mas a falha desnuda apenas a miséria de quem a comete sem consciência. O erro, quando atravessado pela competência, transforma-se em evento de lucidez: não apaga a responsabilidade, mas impede que o equívoco seja sentença irrevogável.
A competência, nesse sentido, não se reduz a técnica; é ética aplicada à contingência. É a capacidade de assumir a gravidade do erro sem ser subjugado por ele. É compreender que a falha, por mais contundente, não é fatalidade — é um espelho, uma oportunidade para a reflexão estruturada, para a transcendência do automatismo e da mediocridade.
Fazer errado “do jeito certo” é uma forma de resistência ao caos inerente à vida. É reconhecer que todo ato, mesmo mal orientado, carrega em si a possibilidade de dignidade. É subverter a ideia de que a derrota é irreversível, de que o tropeço define o sujeito. Quem erra com competência erra com atenção, com consciência do peso e da consequência, erra sem abdicar de si mesmo, erra como quem ainda mantém o domínio sobre sua própria existência.
Há, portanto, uma ética do erro: não se trata de evitar o fracasso, mas de articulá-lo à competência, de transformá-lo em aprendizado existencial. No limite, até no erro, o sujeito competente não é vencido. Ele permanece inteiro, responsável e lúcido, porque entende que a falha só se torna sentença quando desprovida de reflexão, consciência e rigor.
Erros não absolvem, mas o domínio do ato — mesmo falho — revela o ser em sua profundidade. Competência não é perfeição; é transcendência da contingência. Até no erro, ela salva.