ENTRE O VENTO E A ROCHA: O DRAMA DA INCONSTÂNCIA HUMANA
A fragilidade humana muitas vezes se manifesta na inconstância. Homens e mulheres que se orgulham de sua maleabilidade, como se viver sem convicções fosse virtude. São como cata-ventos: movem-se ao sabor dos ventos culturais, das opiniões momentâneas, das pressões sociais. Ontem criam, hoje duvidam, amanhã já terão abandonado até mesmo o eco de sua fé. A sinceridade que alegam possuir é frágil, porque a sinceridade sem enraizamento não passa de vento — é um sentir que não se sustenta, uma chama que não aquece, uma promessa que não se cumpre.
A Escritura contrasta esse espírito vacilante com a firmeza daquele que está plantado junto às águas. O justo, diz o salmista, “será como árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto na estação própria, e cujas folhas não caem; e tudo quanto fizer prosperará” (Sl 1:3). Aqui está a diferença essencial: enquanto o cata-vento se gloria em sua constante mudança, a árvore glorifica o Criador em sua constância, pois permanece de pé, mesmo quando os ventos sopram com força.
O apóstolo Tiago nos adverte: “O homem de coração dobre é inconstante em todos os seus caminhos” (Tg 1:8). A inconstância não é apenas uma falha de caráter; é uma escravidão disfarçada. Aquele que não se firma em uma verdade maior, torna-se servo das circunstâncias. O vento não o liberta, o arrasta. A cada nova opinião, a cada nova moda, a cada nova pressão, sua vida se reinventa sem raiz, mas também sem destino.
A filosofia antiga já percebia essa miséria. Heráclito falava do fluxo perpétuo, mas Sócrates buscava a firmeza da verdade em meio ao devir. Spurgeon, por sua vez, ecoa o clamor bíblico: não basta ser sincero, é preciso ser verdadeiro. Não basta mudar, é preciso permanecer. Pois o Evangelho não é um sopro que passa, mas uma rocha eterna sobre a qual se pode edificar a vida (Mt 7:24-25).
A utilidade do cata-vento é mostrar de onde vem o vento, mas nunca resistir a ele. Sua existência é apenas reativa. Assim também são aqueles que não sustentam fé alguma: vivem reagindo, mas nunca fundando. O cristão, porém, é chamado a algo mais elevado: ser sal que preserva, luz que permanece, testemunha que não se curva diante das marés.
Em última instância, a questão não é apenas de convicção pessoal, mas de responsabilidade diante de Deus. O homem inconstante pode ser até admirado por sua flexibilidade, mas diante do Eterno, sua instabilidade revela incredulidade. Porque crer é permanecer, e permanecer é viver a fé como raiz, não como vento.