DIZENDO A DEUS: UM ADEUS QUE SE TORNA ENCONTRO
Dizer “adeus” ao passado não é simplesmente virar a página de uma história, mas reconhecê-la como lugar de queda e, ao mesmo tempo, de revelação. O conflito, a exasperação e as rupturas que roubaram o chão não são apenas memórias de fraqueza, mas testemunhos daquilo que o homem, sem Deus, não consegue sustentar por si mesmo. Ao confessar esse adeus, abre-se o espaço para uma confissão ainda mais radical: a de que a vida só encontra firmeza quando repousa sobre a rocha eterna, Cristo Jesus (Mt 7:24).
O adeus aos dias em que a fé se viu manchada não é um gesto de orgulho espiritual, mas de humildade. É o reconhecimento de que a fé, para permanecer viva e impoluta, precisa ser sustentada pelo Deus que a dá, que a purifica e que a guarda. Não é o sujeito que preserva sua fé, mas o Espírito Santo que, em meio às trevas do coração, reacende a chama e a mantém acesa até o último dia (2Tm 1:12; 1Pe 1:5).
Da mesma forma, o adeus aos momentos negativos e às noites que obscureceram a santidade não é uma fuga do peso da existência, mas um ato de entrega ao Deus que restaura. Pois a santidade, quietude e paz não são conquistas humanas, mas dons da graça, frutos da habitação do Espírito que nos conforma à imagem do Filho (Rm 8:29). Aquele que diz adeus ao velho homem, de fato, está declarando sua morte com Cristo (Cl 3:3) e, ao mesmo tempo, saudando a ressurreição de uma nova vida que não pertence mais à carne, mas ao Espírito (Gl 2:20).
Dar boas-vindas à vida “monótona, repetitiva e tão agradável” com Deus é uma confissão profundamente contracultural. Porque o mundo despreza a repetição do santo, mas é justamente na rotina da oração, na disciplina da leitura, na constância da comunhão e na perseverança do caminho estreito que se experimenta a verdadeira paz de Deus, aquela que excede todo entendimento (Fp 4:7). É nessa repetição da fidelidade que se manifesta a novidade da graça; é no ordinário da vida com Deus que o extraordinário da eternidade já se faz presente.
Portanto, dizer adeus ao passado é, na verdade, dizer “sim” ao Deus que sempre esteve presente. É acolher a reconciliação operada pela cruz, é abraçar a quietude que brota do Espírito e é repousar na paz daquele que prometeu: “Eis que faço novas todas as coisas” (Ap 21:5). O adeus se converte em encontro, e a despedida se transforma em renascimento.
Prado, Bahia, 18 de agosto de 2018.
Autor: Jeovan Rangel
Hoje o Facebook me trouxe como recordação esse meu texto e resolvi postá-lo aqui.