OS DOIS SILÊNCIOS DA SOLIDÃO
Existem dois tipos de solidão. A primeira é a mais honesta: estar realmente sozinho, desacompanhado, rodeado apenas pelo próprio silêncio. É sentir o eco dos passos, o peso das horas, a cadeira vazia à mesa. Essa solidão dói, mas não engana — ela mostra o que é: ausência pura.
A segunda, porém, é uma farsa dolorosa: é ter pessoas ao lado e, ainda assim, continuar só. É o abraço morno que não aquece, o olhar que não se demora, a conversa que não passa da superfície. É estar num mar de vozes, mas se afogar no próprio silêncio.
Hoje, essa segunda solidão ganhou um novo disfarce: estamos juntos, mas cada um exilado atrás de uma tela. Riem para o celular, não para quem está ao lado. Compartilham fotos, mas não o momento. Trocam mensagens instantâneas com quem está longe, enquanto ignoram quem está perto. A tecnologia nos prometeu proximidade, mas nos entregou uma nova forma de distância: a presença ausente.
Eu já vivi as duas solidões. E aprendi que a primeira é suportável — nela, a solidão é sincera. A segunda, essa de estar cercado e não ser tocado, é mais cruel. É como morrer de sede bebendo água salgada.
Mas ambas têm um ponto em comum: elas nos lembram de que o silêncio mais difícil de romper não é o que vem de fora, mas o que se instala dentro de nós. E, às vezes, para quebrar esse silêncio, não basta que alguém esteja ao lado — é preciso que esteja dentro, que ocupe um espaço vivo no nosso coração.
Porque, no fim, a pior solidão não é a de estar sem ninguém. É a de não estar em ninguém. E talvez a cura para qualquer solidão esteja menos em encontrar companhia e mais em encontrar presença — aquela que ouve, que vê, que sente, que fica.