O Púlpito Como Palco: A Farsa da Autoridade Religiosa Autoproclamada
Vivemos tempos em que muitos líderes religiosos — pastores, apóstolos, bispos e profetas — têm feito do púlpito um palco e da fé um espetáculo. O discurso se incha de frases de efeito, mas esvazia-se de conteúdo. Fala-se muito, mas diz-se quase nada. A eloquência impressiona, porém não transforma. As palavras, embora envoltas em tom solene e supostamente ungido, carecem de substância, de verdade, de compromisso com o real Evangelho.
Esses líderes falam da alma, mas vivem com a própria desabitada. Falam da vida alheia como quem domina a verdade absoluta, mas suas línguas afiadas confundem juízo com julgamento, e acabam por transformar boatos em doutrina e achismos em revelação. Autoproclamam-se autoridades espirituais, mas sua autoridade é vazia de unção verdadeira e cheia de vaidade.
A princípio, podem atrair audiências. Enchem templos e lives. Movimentam multidões. Mas cedo ou tarde, a inconsistência de seus discursos os entrega. A audiência começa a perceber a repetição do vazio, a superficialidade das mensagens, a ausência de alimento sólido. Muitos vão embora em silêncio. Outros permanecem por costume, conveniência ou medo, mas com a consciência de que estão diante de um desperdício de tempo, de fé e de ofício.
O problema, contudo, não reside apenas em quem fala, mas também em quem escuta. Parte da massa de fiéis, acostumada a consumir frases prontas e milagres prometidos, não cobra coerência, não exige profundidade, não faz perguntas. Ri das anedotas, aplaude as campanhas, reverencia o "homem de Deus" sem buscar frutos, sem examinar as Escrituras, sem discernimento espiritual.
Esse ambiente cria uma espiritualidade do entretenimento: barulhenta, performática, emocionalmente manipuladora e teologicamente rala. É um culto ao carisma, não ao Cristo. Um seguimento da figura do líder, e não do Senhor. A Palavra perde lugar para o improviso, o estudo cede ao show, e a comunidade vira audiência de um espetáculo semanal.
Diante desse cenário, calar-se é consentir. É preciso dizer com todas as letras: saber teologia, interpretar bem a Escritura, pastorear com responsabilidade, não é dom reservado a poucos, é exigência do ministério. Quem não prega com ciência e com arte, com verdade e com temor, não deve ocupar o púlpito.
É hora de um despertar. Um retorno à Palavra. Uma crítica contundente aos falsos mestres que se valem da ignorância do povo para manter o próprio status. É tempo de dizer, com coragem e indignação santa:
— Sabe uma ova! A fé cristã não se sustenta em vaidades humanas. O Reino de Deus não se edifica sobre aplausos, mas sobre cruz.