DO BARRO AO VERBO
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A ARQUITETURA OCULTA DO PECADO

 

O pecado não é um ato apenas. É uma presença. Um princípio ativo que opera na sombra, que habita as bordas do sagrado, que se insinua não onde há ausência de Deus, mas onde Deus é nomeado com frequência e superficialidade. O pecado não se limita aos becos escuros da moralidade comum — ele prefere os púlpitos, os palanques, os tronos da vaidade espiritual.

 

Ele vem. Cotidianamente. Não com garras visíveis, mas com mãos estendidas. Não com rostos monstruosos, mas com semblantes familiares. Ele se veste de piedade, fala em nome do bem, caminha em sandálias de empatia. O pecado jamais entra em guerra aberta — ele prefere as sutilezas da infiltração. É sabotador, nunca revolucionário.

 

E o alvo mais precioso do pecado não é o miserável entregue ao vício, nem o cínico que nega a fé. O pecado não se interessa em destruir ruínas — ele quer colapsar catedrais. Ele deseja os que brilham, os que ensinam, os que lideram. Porque quanto mais alto o altar, mais espetacular a queda.

 

O líder religioso que se arroga de santidade, que se vê como coluna inabalável, que vocifera espiritualidade como se já houvesse cruzado a linha da eternidade — esse é o alvo mais cobiçado. É sobre ele que o pecado lança seu olhar mais afiado. Não por acaso. Porque sua queda arrasta multidões. Seu colapso gera crises de fé. Sua ruína profana o nome de Deus entre os homens.

 

E o pecado sabe esperar. Ele tem tempo. Ronda como um predador paciente. Penetra sem alarde, como uma bomba guiada por inteligência letal. Não faz erosões. Não causa tremores. Ele cava, silenciosamente, até alcançar o vácuo da alma. E ali, no interior intocado, ele explode. De dentro para fora. A destruição não é barulhenta — é devastadora.

 

Pior ainda: o pecado se alimenta da pretensa imunidade espiritual. Aqueles que se escondem sob o manto da religiosidade sem examinar o próprio abismo interno se tornam iscas perfeitas. A espiritualidade que não nasce da cruz, mas do orgulho, é um disfarce — e o inferno conhece bem esses tecidos.

 

Por isso, a graça não é luxo. É sobrevivência. E não qualquer graça — mas a graça irresistível, imerecida, soberana, que invade o coração como luz que rasga as trevas. A graça que vem antes do arrependimento, que gera contrição, que quebra o homem antes que ele se quebre por completo.

 

Calvino não escreveu para homens fracos, mas para homens que reconheciam sua fraqueza. A graça que ele pregava não era lenço para lágrimas emocionais, mas âncora para almas ameaçadas por naufrágio interior. É essa graça que impede que o pecado nos destrua. Não porque sejamos fortes, mas porque o Autor da graça é fiel.

 

O pecado vem todos os dias. E virá. Até o último suspiro. Mas há um Nome. Um Nome que está acima de toda acusação, acima de todo engano, acima de toda tentativa de destruição. Um Nome que não se mascara, não se corrompe, não se curva.

 

É por esse Nome — Jesus — que ainda estamos de pé.

 

 

 

NOTA DO AUTOR: 

Leia esse texto com o coração aberto — ele pode ser sobre você também.

Ele nasceu da minha própria experiência. Eu não escrevi de fora, como um observador, mas de dentro, como alguém que já foi alcançado, seduzido e ferido pelo pecado. Cada palavra carrega a dor, o confronto e a misericórdia que vivi. Não é teoria. É carne. É joelho dobrado. É graça que me sustentou quando eu já não podia me sustentar. Por isso, esse texto não é só uma reflexão — é um testemunho.

 

 

Jeovan Rangel
Enviado por Jeovan Rangel em 10/07/2025
Alterado em 10/07/2025
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