DO BARRO AO VERBO
UMA TRAVESSIA NORDESTINA DE PENSAMENTOS
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 "A GEOMETRIA DO ADEUS"

 

Em última instância, fui ficando.

Talvez por teimosia, talvez por esperança. Fui ficando como quem repousa a mala no chão e espera que alguém diga: “fica mesmo”. Mas você silenciava. E o silêncio, esse velho traidor, começou a falar por você.

 

Em pouca constância, suas palavras chegavam.

Intermitentes. Secas. Mecânicas. Como se responder fosse uma formalidade e não um encontro de alma. Eu sentia o tempo esticando entre nós como um lençol que já não cobre os dois.

 

Eu...

Permaneço.

No gesto, no olhar demorado para a tela, na lembrança dos risos antigos. Permaneço, mesmo sabendo que presença não é insistência. É reciprocidade.

 

Aos poucos, o sumiço.

Como quem se desfaz da própria sombra, você foi deixando de comparecer. Um dia faltou ao “bom dia”. Noutro, ao abraço. Depois, ao próprio nome.

 

Virou compromisso...

E, ironicamente, foi o mais pontual de todos. O compromisso com a ausência, com a desistência não declarada, com o abandono velado. Você passou a cumprir com exatidão o ato de não estar.

 

Seu.

O desaparecimento foi inteiro. Não restaram sequer migalhas para que eu fizesse o caminho de volta.

E mesmo assim, insisto em tentar decifrar onde foi que te perdi —

ou pior, onde foi que você me deixou sabendo que partiria.

 

Mas já era tarde.

O que era “nós” se dissolveu como névoa ao sol da indiferença.

E eu, que ainda ficava, aprendi, enfim, a ir.

 

Jeovan Rangel
Enviado por Jeovan Rangel em 14/06/2025
Alterado em 14/06/2025