"A GEOMETRIA DO ADEUS"
Em última instância, fui ficando.
Talvez por teimosia, talvez por esperança. Fui ficando como quem repousa a mala no chão e espera que alguém diga: “fica mesmo”. Mas você silenciava. E o silêncio, esse velho traidor, começou a falar por você.
Em pouca constância, suas palavras chegavam.
Intermitentes. Secas. Mecânicas. Como se responder fosse uma formalidade e não um encontro de alma. Eu sentia o tempo esticando entre nós como um lençol que já não cobre os dois.
Eu...
Permaneço.
No gesto, no olhar demorado para a tela, na lembrança dos risos antigos. Permaneço, mesmo sabendo que presença não é insistência. É reciprocidade.
Aos poucos, o sumiço.
Como quem se desfaz da própria sombra, você foi deixando de comparecer. Um dia faltou ao “bom dia”. Noutro, ao abraço. Depois, ao próprio nome.
Virou compromisso...
E, ironicamente, foi o mais pontual de todos. O compromisso com a ausência, com a desistência não declarada, com o abandono velado. Você passou a cumprir com exatidão o ato de não estar.
Seu.
O desaparecimento foi inteiro. Não restaram sequer migalhas para que eu fizesse o caminho de volta.
E mesmo assim, insisto em tentar decifrar onde foi que te perdi —
ou pior, onde foi que você me deixou sabendo que partiria.
Mas já era tarde.
O que era “nós” se dissolveu como névoa ao sol da indiferença.
E eu, que ainda ficava, aprendi, enfim, a ir.