(Por Jeovan Rangel)
Em um mundo saturado de informações e certezas prontas, reconhecer a própria ignorância é um gesto de rara lucidez. É justamente nesse reconhecimento que habita uma das mais profundas expressões de saúde mental: a capacidade de manter-se aberto, interrogante e humilde diante do mistério da existência.
O adoecimento psíquico, tantas vezes, se disfarça de certeza. Aquele que se ilude com o falso saber, que acredita possuir todas as respostas e se blinda contra o questionamento, fecha as portas ao crescimento e à escuta. Trata-se de uma forma de prisão — uma mente enclausurada na arrogância, que rejeita a dúvida como fraqueza, quando, na verdade, ela é o solo fértil da sabedoria.
O verdadeiro sábio não é aquele que tudo sabe, mas aquele que compreende o abismo entre o que pensa saber e a vastidão do que ainda desconhece. Ele lamenta, não por resignação, mas por respeito. Sabe que a ignorância é uma condição humana inevitável, e por isso não a nega — integra-a. Seu lamento é um ato de amor à verdade, não um sintoma de fracasso.
Assim, estar em paz com a própria ignorância é libertar-se da angústia de parecer infalível. É reconhecer que o não saber pode ser mais íntegro do que a ilusão de domínio. O sábio, portanto, está livre da doença mental do homem comum porque aprendeu a viver no entrelaçamento de humildade e consciência. E nesse entrelaçamento, encontra serenidade.
Prado, Bahia, 16 de Maio de 2014.