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TENHO SÉRIOS POEMAS NA CABEÇA (Autor: Pedro Salomão)
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O SILÊNCIO QUE CONSOME

 

Por que Algumas Pessoas se Anulam e Como a Psicanálise Explica Esse Sofrimento!

 

Existem pessoas que, mesmo sendo capazes, sensíveis e inteligentes, simplesmente não conseguem defender seus interesses diante do mundo. Elas se calam quando gostariam de falar, cedem quando desejariam resistir, se apagam na esperança, muitas vezes inconsciente, de serem amadas, aceitas ou simplesmente toleradas. A psicanálise, que mergulha nas camadas mais profundas da mente humana, nos ajuda a entender que essa anulação de si mesmo não é fruto de uma escolha racional ou de uma simples falta de coragem. Trata-se de algo muito mais sutil e doloroso: a repetição de processos inconscientes que se instalaram há muito tempo, muitas vezes ainda na infância.

 

Desde muito cedo, a criança aprende como sobreviver emocionalmente no ambiente em que cresce. Se, para ser amada, ela precisa se calar, agradar ou suprimir seus desejos, ela aprende a renunciar a si mesma como forma de garantir a ligação com aqueles de quem depende. Assim, nasce a tendência à anulação: um gesto de amor e de medo, misturados no mesmo movimento silencioso. Esse padrão, impregnado no inconsciente, atravessa os anos e se manifesta na vida adulta, impedindo que o indivíduo se afirme, se proteja e lute por aquilo que é seu.

 

A psicanálise identifica vários caminhos inconscientes que levam a essa dificuldade de se defender. Um deles é a chamada neurose de transferência, onde antigos padrões emocionais são projetados nas relações atuais. A pessoa age como se ainda estivesse diante daqueles que, no passado, exigiram sua obediência e submissão. Há também o peso de um superego severo, uma voz interna dura e crítica que condena qualquer gesto de autoafirmação como se fosse uma grave transgressão moral. Muitos se identificam com os agressores que tiveram na infância, internalizando o discurso de que seus próprios desejos não merecem espaço. Outros ainda se fixam em uma posição masoquista, acreditando inconscientemente que sofrer em silêncio é a única maneira de conquistar amor e pertencimento.

 

Por trás desse apagamento também habita a angústia de castração — um medo primitivo de ser punido, rejeitado ou abandonado caso ouse desejar algo para si. E, frequentemente, esse sofrimento é agravado por um déficit narcísico: uma falta fundamental na construção do amor-próprio, que impede o indivíduo de reconhecer a legitimidade dos seus sentimentos e necessidades.

 

Mas se a dor se instala nas profundezas da mente, é também nesse território que começa o caminho da cura. A psicanálise propõe um trabalho de escuta e interpretação que permite ao sujeito reconhecer esses padrões silenciosos que governam suas escolhas. Ao nomear o que antes era apenas um mal-estar sem forma, a pessoa começa a recuperar o fio de sua história, a entender que aquele comportamento que parecia ser parte da sua natureza é, na verdade, uma defesa, uma adaptação, uma tentativa de sobreviver emocionalmente a contextos difíceis.

 

No processo analítico, o ego — essa instância que negocia entre os desejos internos e a realidade externa — vai se fortalecendo. Com isso, o indivíduo passa a suportar melhor os conflitos internos e a encontrar novas maneiras de existir no mundo, menos baseadas na renúncia automática de si mesmo. É preciso também trabalhar o superego, suavizar a dureza das cobranças internas e abrir espaço para uma ética mais viva, mais humana, menos punitiva.

 

Outro passo fundamental é integrar a agressividade saudável — entender que querer algo, se posicionar, estabelecer limites, não é ferir o outro, mas afirmar-se como sujeito. A reconstrução do narcisismo, isto é, do amor-próprio, é parte essencial do caminho: é preciso aprender a validar seus próprios desejos, mesmo que eles desagradem ou contrariem expectativas externas.

 

À medida que o sujeito amplia sua consciência emocional e começa a reconhecer, em tempo real, as situações em que se anula, ele ganha a possibilidade de escolha: pode, pela primeira vez, escolher ser fiel a si mesmo, ainda que isso cause desconforto. Pode escolher existir.

 

Anular-se não é uma vocação, nem um defeito de caráter. É, quase sempre, uma história de amor interrompida, uma tentativa de preservar vínculos às custas do próprio ser. A psicanálise não promete fórmulas rápidas nem elimina a dor da existência, mas oferece algo infinitamente mais valioso: a chance de retomar o caminho interrompido e, finalmente, reconquistar o direito de desejar, de falar, de viver.

 

O renascimento da própria voz é talvez a maior conquista que alguém pode alcançar. Porque viver é, sobretudo, ousar ser quem se é.

 

 

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Jeovan Rangel
Enviado por Jeovan Rangel em 27/04/2025