LIBERDADE SEM PORTO!

A liberdade torna-se um conceito ambíguo quando não há mais um ponto de retorno. Dizem que ser livre é poder escolher, mas o que significa essa escolha quando todas as portas foram seladas pelo passado e os caminhos dissolvidos na poeira do tempo? Quando não há trilhas visíveis, o livre-arbítrio se transforma em um labirinto sem paredes, onde cada passo não leva a lugar algum, apenas ao vazio.

Sigo por um percurso sem contornos definidos, levando comigo apenas o vento e a sombra do que um dia fui. Sem raízes que firmem meus pés ao chão, sem rostos familiares à espera no fim da estrada, sou uma embarcação à deriva em um oceano sem margens. O horizonte se expande diante de mim como uma miragem, uma promessa ilusória que esconde em seu véu um abismo sem fim.

Ser livre assim é carregar um fardo invisível. É como soltar um pássaro no céu sem lhe oferecer um pouso. O espaço infinito não acalenta, apenas dissolve qualquer senso de pertencimento. Descubro, então, que a liberdade sem um porto não é conquista, mas exílio.

Entre infinitas asas, escolhi o silêncio. O céu, em sua vastidão, não preenche o vácuo que me habita. Lá no alto, onde o ruído do mundo se apaga, descubro que o silêncio pode tanto ferir quanto acolher. Mas mesmo o silêncio, com toda sua promessa de refúgio, se revela um cárcere quando não há ecos que o quebrem, quando sua profundidade se confunde com a ausência.

E, assim, sigo — prisioneiro da própria liberdade. Na contradição de um céu que me oferta tudo e nada ao mesmo tempo, percebo que a âncora que tanto temi pode ser a única redenção. Porto Seguro se ergue à distância, não como um destino a ser alcançado, mas como uma interrogação: estarei pronto para retornar? Ou a liberdade sem margens já fez de mim um espectro que nunca mais se encaixará em terra alguma?