POEMAS, PÉTALAS E VENTOS!
TENHO SÉRIOS POEMAS NA CABEÇA (Autor: Pedro Salomão)
Capa Meu Diário Textos Áudios E-books Fotos Perfil Livros à Venda Livro de Visitas Contato Links
Textos

Resenha crítica do livro: CONFISSÕES, de Santo Agostinho

 

Publicado no final do século IV, Confissões é uma das obras mais influentes da literatura ocidental e um marco na filosofia e na teologia cristã. Escrito por Santo Agostinho de Hipona, o livro mistura autobiografia, reflexão filosófica e teológica em uma narrativa introspectiva e profundamente humana.

 

Resumo da Obra. Dividida em treze livros, Confissões narra a jornada espiritual de Agostinho desde sua infância até sua conversão ao cristianismo e sua visão da relação entre Deus e o homem. Nos primeiros nove livros, ele relata sua juventude marcada por prazeres mundanos, ambições intelectuais e crises existenciais. Influenciado pelo maniqueismo e pelo neoplatonismo, ele passa por um longo processo de busca pela verdade até sua conversão definitiva ao cristianismo em 386 d.C.

 

Nos últimos quatro livros, a narrativa autobiográfica dá lugar a reflexões teológicas e filosóficas mais abstratas. Agostinho discute temas como a criação do mundo, a natureza do tempo e a interpretação da Bíblia, revelando sua visão sobre Deus e a existência humana.

 

Análise Crítica. 1. A Originalidade e a Estrutura da Obra. Agostinho inovou ao escrever Confissões em forma de diálogo com Deus, conferindo ao texto um tom intimista e ao mesmo tempo universal. Diferente de outras autobiografias da Antiguidade, a obra não se limita a relatar fatos, mas se aprofunda em questões espirituais e filosóficas. Essa abordagem torna a leitura envolvente, pois permite que o leitor acompanhe as angústias e descobertas do autor em sua busca pela verdade.

 

2. O Processo de Conversão. O relato da conversão de Agostinho é um dos momentos mais marcantes do livro. Ele descreve sua luta interna contra os desejos mundanos e sua dificuldade em aceitar plenamente a fé cristã. O episódio no jardim, em que ele ouve uma voz infantil dizendo Tolle, lege ("Toma e lê") e encontra na Bíblia a resposta para suas dúvidas, simboliza o clímax de sua jornada espiritual.

 

Esse processo não é apenas religioso, mas também filosófico e psicológico. Agostinho representa o dilema humano entre razão e desejo, mostrando que a conversão não é um ato instantâneo, mas uma transformação gradual e profunda.

 

3. Reflexões Filosóficas e Teológicas. Nos últimos livros, Agostinho desenvolve reflexões sobre temas complexos, como a natureza do tempo e a criação. Seu conceito de tempo, exposto no Livro XI, é uma das partes mais estudadas da obra. Ele argumenta que o passado e o futuro não existem como realidades objetivas, mas apenas na mente humana, antecipando discussões modernas da filosofia sobre a subjetividade do tempo.

 

Além disso, a obra apresenta uma leitura alegórica das Escrituras, enfatizando que a verdade bíblica deve ser compreendida de maneira espiritual, não apenas literal. Essa visão influenciou profundamente a teologia cristã posterior.

 

Relevância e Impacto. Confissões é um livro atemporal, pois trata de temas universais como a busca pelo sentido da vida, a luta contra os próprios defeitos e a relação entre fé e razão. Sua influência se estende além da teologia, impactando a filosofia, a literatura e até mesmo a psicologia.

 

No entanto, a obra pode apresentar dificuldades para leitores contemporâneos devido à sua linguagem densa e às longas digressões filosóficas. Mesmo assim, seu valor literário e espiritual é inegável, tornando-a uma leitura essencial para quem deseja compreender não apenas o pensamento cristão, mas a própria condição humana.

 

Conclusão. Confissões não é apenas um testemunho pessoal, mas um convite à reflexão sobre a natureza da alma e a busca por Deus. Com uma escrita sincera e apaixonada, Santo Agostinho oferece ao leitor uma jornada intelectual e espiritual única, que continua relevante mais de 1.600 anos após sua publicação. É uma obra que desafia e inspira, mostrando que a verdadeira transformação vem do confronto com as próprias fraquezas e da busca pela verdade absoluta.

 

 

Prado, Bahia, 06 de Agosto 2003.

 

Jeovan Rangel
Enviado por Jeovan Rangel em 24/02/2025
Alterado em 24/02/2025