PRESENÇA INDESEJADA E A AUSÊNCIA ESQUECIDA.
Forçar minha presença quando esta é indesejada é como gritar em um silêncio voluntário. É atravessar o espaço do outro sem permissão, invadir sem propósito, e ainda esperar acolhimento onde só existe desconforto. Torna-me alguém a ser evitado; não apenas uma pessoa não bem-vinda, mas um incômodo, uma sombra deslocada no lugar onde outrora poderia haver luz.
A presença indesejada carrega o peso de um desconforto profundo. Ela nos reduz a uma imagem distorcida, a um papel para o qual não fomos escolhidos, mas que, por teimosia ou cegueira emocional, insistimos em interpretar. E, ao fazê-lo, não percebemos que o silêncio do outro não é um convite, mas um muro invisível, um limite claro, embora não verbalizado.
Ser indesejado é mais do que não ser aceito; é ter a percepção de que a nossa chegada apaga a harmonia, provoca desequilíbrio e desperta, no outro, o desejo de se retirar — mesmo que em pensamento. Ao insistirmos, a ausência deixa de ser sentida, porque deixa de existir o valor da nossa presença. Não há vazio para ser preenchido, pois aquele espaço nunca nos pertenceu.
Pior do que ser ignorado é ser lembrado apenas pelo desconforto que provocamos. A ausência, por sua vez, pode ser sutilmente bela: ela carrega memórias, deixa saudade, é espaço preenchido pela lembrança. Porém, quando forçamos a presença onde não há lugar para ela, anulamos a possibilidade de sermos lembrados com afeto. Tornamo-nos apenas "persona non grata", um nome que traz consigo a ideia de exclusão, o símbolo de um desconforto prolongado.
Forçar-se na vida alheia, então, é como apagar os rastros que poderiam nos humanizar. Ninguém deseja o que perturba, ninguém sente falta do que não traz paz. Há uma arte em saber se retirar, em reconhecer o momento de partir, deixando a porta aberta para a saudade entrar.
Não ser desejado não é um fracasso, mas ignorar os sinais e insistir pode ser. Pois há dignidade na ausência voluntária, enquanto a presença imposta fere tanto a quem chega quanto a quem assiste. Assim, aprende-se que, às vezes, o melhor caminho é aquele que nos leva para longe, onde talvez possamos ser lembrados não pela força de nossa presença, mas pela delicadeza do espaço que deixamos.