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TENHO SÉRIOS POEMAS NA CABEÇA (Autor: Pedro Salomão)
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PRESENÇA INDESEJADA E A AUSÊNCIA ESQUECIDA.

 

Forçar minha presença quando esta é indesejada é como gritar em um silêncio voluntário. É atravessar o espaço do outro sem permissão, invadir sem propósito, e ainda esperar acolhimento onde só existe desconforto. Torna-me alguém a ser evitado; não apenas uma pessoa não bem-vinda, mas um incômodo, uma sombra deslocada no lugar onde outrora poderia haver luz.

 

A presença indesejada carrega o peso de um desconforto profundo. Ela nos reduz a uma imagem distorcida, a um papel para o qual não fomos escolhidos, mas que, por teimosia ou cegueira emocional, insistimos em interpretar. E, ao fazê-lo, não percebemos que o silêncio do outro não é um convite, mas um muro invisível, um limite claro, embora não verbalizado.

 

Ser indesejado é mais do que não ser aceito; é ter a percepção de que a nossa chegada apaga a harmonia, provoca desequilíbrio e desperta, no outro, o desejo de se retirar — mesmo que em pensamento. Ao insistirmos, a ausência deixa de ser sentida, porque deixa de existir o valor da nossa presença. Não há vazio para ser preenchido, pois aquele espaço nunca nos pertenceu.

 

Pior do que ser ignorado é ser lembrado apenas pelo desconforto que provocamos. A ausência, por sua vez, pode ser sutilmente bela: ela carrega memórias, deixa saudade, é espaço preenchido pela lembrança. Porém, quando forçamos a presença onde não há lugar para ela, anulamos a possibilidade de sermos lembrados com afeto. Tornamo-nos apenas "persona non grata", um nome que traz consigo a ideia de exclusão, o símbolo de um desconforto prolongado.

 

Forçar-se na vida alheia, então, é como apagar os rastros que poderiam nos humanizar. Ninguém deseja o que perturba, ninguém sente falta do que não traz paz. Há uma arte em saber se retirar, em reconhecer o momento de partir, deixando a porta aberta para a saudade entrar.

 

Não ser desejado não é um fracasso, mas ignorar os sinais e insistir pode ser. Pois há dignidade na ausência voluntária, enquanto a presença imposta fere tanto a quem chega quanto a quem assiste. Assim, aprende-se que, às vezes, o melhor caminho é aquele que nos leva para longe, onde talvez possamos ser lembrados não pela força de nossa presença, mas pela delicadeza do espaço que deixamos.

 

Jeovan Rangel
Enviado por Jeovan Rangel em 11/12/2024