NA RODA COM ACUSADORES
Comentários ditos por pessoas com referência a outros é algo comum. É verdade que nalguns momentos sentimo-nos desconfortados, mas a trivialidade faz com que nos tornemos também promotores, juízes e algozes daqueles que, a nosso ver, merecem pena capital. Por isso todas as vezes que ouço um comentário capcioso sobre alguém penso no que disse Jesus: “Não julgueis, para que não sejais julgados. Porque com o juízo com que julgais, sereis julgados; e com a medida com que medis vos medirão a vós. E por que vês o argueiro no olho do teu irmão, e não reparas na trave que está no teu olho? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho; e então verás bem para tirar o argueiro do olho do teu irmão” . E quando Ele diz: “Não julgueis pela aparência, mas julgai segundo o reto juízo” . Quando enxergamos o argueiro no olho do próximo sem conseguir enxergar a trave que está no nosso, o cisco que representa o erro alheio nos faz cegos e a única coisa que conseguimos enxergar são as pedras que estão em nossas mãos, prontas, a fazer a “justiça” prevalecer. Tudo, porém, se faz bem diferente quando o contrário acontece. Quando somos nós a estar no centro desta mesma roda sob os cépticos olhares dos defensores da “justiça”, prestes a sermos sentenciados e executados. Aí, clamamos por misericórdia. Aqui vale a mínima; “para os outros, justiça! Para mim, misericórdia”.i
Incomoda-me pensar que muitas vezes, fiz – e ainda posso fazer – parte desses “tribunais”, e quão difícil é não pensar no assunto, principalmente, quando as Sagradas Escrituras deixam claro que o simples fato de mantermos em nós o espírito da critica, faz com que o erro alheio ganhe proporções imensuráveis, fazendo com que o crivo do julgamento seja acrescido revelando em nós a bestialidade outrora latente.
Tenho analisado com muita preocupação a mediocridade em que vive o ser humano. Somos muitos rápidos em nossos julgamentos, em nossas sentenças; principalmente quando alimentamos em nós a ilusão de que somos perfeitos ou, mais santo que o irmão; ou quando temos a ilusão de que nunca seremos pegos naquele nosso erro tão bem escondido por nós. Aí, vestidos de togas a fim de denotar nossa magistratura escondendo embaixo dela todas as nossas miserabilidades, tomamos a extensão de medir as pessoas usando como base, o nível de vida, ignóbil que vivemos. E partindo desse pressuposto entendemos que as pessoas são mesmo capazes de cometerem os pecados das quais são acusadas, logo, a “justiça” deve ser feita.
Assim procedemos e vivemos numa autoclausura abstinente de compaixão e misericórdia. Sendo incapazes de enxergar uma atitude nobre numa pessoa pobre, ou tão pouco de distinguir um diamante lapidado, se este estiver revestido de um invólucro sujo, sem atrativo e repudiável. Estamos desprovidos de sentimentos nobres e a cima de tudo compaixão, misericórdia e doação. Talvez por isso vaticinemos: se tenho uma mente suja, logo, todas as pessoas também. Julgamos, porque concluímos que elas são incapazes de atitudes prodigiosas ou nobres, porque em nós não há notabilidade, generosidade ou magnanimidade. O fato de conhecermos nossas míseras e ordinárias limitações faz com que julguemos as pessoas à revelia. Fazemos porque nosso proceder é tão bárbaro e ignominioso quanto o proceder delas. Quantas vezes vestimos a roupagem das multidões e somos por ela conduzidos como pluma levada pelo vento? Quantas vezes esperamos apenas uma voz em meio a ela para também nos sublevar e segui-la? Faz muito tempo que a mediocridade tenta fazer-nos obedecer-la. E, há muito damos atenção a ela. Racionalizamos, radicalizamos e nos fazemos novos recrutas. Precisamos de não nos deixar guiar pelas massas, nos guiando à luz da Palavra do Senhor fazendo o que de nós é exigido. Muitos há que tem concordado em dá menos de si para as pessoas e estão convencidas de que a qualidade, a integridade e a autenticidade, são virtudes que se pode barganhar. Pessoas que poderiam mudar o mundo se a mensagem “não julgueis pela aparência e sim pela reta justiça” e “perdoe as nossas ofensas, assim como nós perdoamos...” , entrassem em suas vidas.
Estou convencido de que as realizações humanas o seu potencial integral ainda é objetivo, e que nos vale a pena perseguir. Que vale a pena extrair de nós o melhor, ainda que com dificuldade, e que a maioria boceje, desacredite e escarneça. Mas que com a obediência à Palavra do Mestre dos mestres possamos viver o verdadeiro evangelho. Perdão, compaixão, misericórdia e amor.