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TENHO SÉRIOS POEMAS NA CABEÇA (Autor: Pedro Salomão)
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CORINGA - O FILME

O filme "Coringa", absurdamente bem interpretado pelo ator Joaquin Phoenix, nos leva a reflexão a respeito de inúmeras questões sociais e políticas importantes.

O "caos" instalado na sociedade, ao final do filme, quando a cidade está incendiada e as pessoas estão o apoiando e dando-lhe visibilidade, se veem representadas pelo Coringa, ao mostrar em uma explosão de momento insano, a realização do seu desejo de vingança num programa televisivo.

O filme nos faz refletir, principalmente, sobre a responsabilidade emocional que as pessoas têm (ou deveriam ter) em relação ao próximo. Em como deveríamos estar mais preparados para acolhe - las. Em como a empatia é uma das qualidades que mais está faltando no ser humano e que isso pode afetar na maneira como ela enxerga e vive sua realidade.

As sensações que eu tive ao assistir Coringa foram as mais diversas. As pessoas não o respeitavam, o desprezavam, o sistema de saúde virou-lhe as costas, ele nao tinha referências de afeto reais, a psicóloga não lhe escutava. As pessoas não davam a mínima para sua existência. E isso é doloroso.

O personagem chega a exaustão. Ele quer fazer justiça com as próprias mãos mas acaba se perdendo no meio do caminho. É uma resposta a tudo que ele sofreu pois não vê outra alternativa, a não ser se vingar de quem lhe causou tanto sofrimento e dor.

Internamente, o público começa a entender os motivos que o levaram a ser e agir como ele age. É um convite a adentrar na história do Coringa, que não é representado no filme de maneira tão caricata, mas de maneira bem realista e próxima do que os excluídos da sociedade sentem todos os dias.

Por mais "psicopata" que ele seja, existe no personagem um "senso" de justiça que faz com que ele mate apenas as pessoas que realmente lhe causaram danos, como o seu colega de trabalho, os caras do metrô que claramente eram bandidos que iriam fazer-lhe mal e o apresentador do programa. Isso tudo faz com que o público, de certo modo, acabe torcendo por ele. Coringa é o lado "sombra" do ser humano.

E então, o momento tão esperado do filme, acontece quando o ator, Joaquim Phoenix, assumindo seu personagem e ao mesmo tempo sua essência de "Coringa", entra no programa de televisão ao vivo para finalmente dar seu "show".

Por mais difícil que tenha sido para o personagem assumir sua identidade, ele está no programa não só para dizer algumas "verdades", mas para plantar a semente do questionamento no público que o assiste.

Nesta cena, o Coringa está realizando seu sonho de ser visto e reconhecido pelo público, mas dessa vez ele está fazendo comédia da sua própria desgraça, do seu profundo e avassalador desejo de vingança. Ele está desengasgando tudo o que ele precisa falar a quem lhe causou danos irreversíveis.

O apresentador o desafia, pergunta se ele está querendo fazer uma manifestação política e ele nega dizendo que só quer ver seu público "rir". A utilização da ironia e do sarcasmo durante grande parte da cena em que ele entra no programa televisivo é muito evidente.

As coisas se confundem. Não trata-se de uma apresentação artística, mas de sua verdadeira essência escancarada ao vivo para milhões de pessoas. É uma das minhas cenas preferidas pois o personagem está transformado. O ator muda sua fisionomia, sua postura, sua maneira de sentar e de falar. É quando ele assume quem ele realmente é. Ele ultrapassa os limites da loucura.

O ponto mais interessante do filme é quando ele questiona a ordem, o sistema, o fato de decidirem o que tem graça e o que não tem num programa de comédia. O Coringa se entrega ao apresentador "Murry" , dizendo que matou os caras por serem "péssimos". Só quem viu o filme sabe os motivos que o fizeram fazer o que fez.

"Se fosse eu morrendo nas calçadas, ninguém ligaria. As pessoas gritam e berram uns com os outros, ninguém pensa em como é estar no lugar do outro",o personagem desabafa.

Suas tentativas frustradas de tentar ser comediante, aliada a forma como o apresentador tenta debochar dele, começam a fazer efervescer nele aquele instinto de vingança.

Poucos minutos antes de disparar o tiro na cabeça do apresentador, e já enlouquecido com o fato e não ser compreendido ele questiona: "O que você acha quando cruza com um doente mental solitário que a sociedade abandona, que o trata como lixo"?
O caos está instalado, a cidade está em chamas. As pessoas passam a ver-lhe como líder pois se veem representadas por ele.

O filme nos fez refletir sobre o quanto a falta de amor e de afeto para com o outro, podem causar danos irreversíveis no psicológico de alguém, no quanto somos responsáveis pelo caos que está o mundo.

E então, após assistir ao filme me pergunto: até que ponto a percepção de realidade do Coringa como se ele enxergasse o mundo "de cabeça para baixo" é fruto do meio em que ele viveu e das pessoas com quem conviveu ou da desordem mental que ele tinha? Seria Coringa vilão ou "vítima" de uma sociedade doente que contribuiu para sua loucura?

Jeovan Rangel
Enviado por Jeovan Rangel em 29/06/2020
Alterado em 10/08/2023