Já li algumas vezes O PEREGRINO, perdi as contas. É literatura quase que forçada àqueles ávidos por leitura, principalmente àqueles dentro do nicho cristão e teológico. No seminário, era leitura obrigatória. É bem verdade que “The pilgrim” é uma obra clássica do século XVII e que o autor, embora pregador protestante, por ser considerado um dissidente foi preso e amargou doze longos anos de cativeiro. É verdade também que este livro, publicado após sua libertação, obteve grande êxito e fama duradoura, embora eu veja como exagero dizer (na contracapa) que somente a Bíblia é mais popular. Eu, pelo menos, em meu país e minha época, deparo com muito mais referências a outras obras e outros autores.
De qualquer modo é um livro extraordinariamente pedante, e também a sua continuação. Os próprios nomes dos personagens são irritantes, mostrando uma qualidade de caráter, como Esperança, Boas-Palavras, Intérprete, Misericórdia, Grande-Coração, Evangelista, Sábio-Segundo-o-Mundo e Temente a Deus, além da figura principal, Cristão, e sua esposa Cristã. A história fala como Cristão, sabendo que a cidade onde morava seria em breve destruída, parte em peregrinação para chegar à Cidade Celestial. Deixa para trás a família e vai passando por muitas regiões estranhas, em meio a toda sorte de dificuldades.
O fato é que as metáforas não convencem. As alegorias usadas são rasas, primárias, tão forçadas que se tornam irritantes. É estranho que na contracapa se diga que o segundo tomo, “A peregrina”, segue um tom “mais humorístico”, porque na verdade não tem a mínima graça. Haverá discordância, quanto ao meu ponto de vista, eu sei disso, e acho perfeitamente normal; todavia é assim, que penso, mais um “clássico decepcionante”.
Resenha do romance “O peregrino”, de John Bunyan, acompanhado de “A peregrina” do mesmo autor. Editora Martin Claret, São Paulo-SP, Coleção “A obra-prima de cada autor”, Série Ouro n° 36, 2005. Capa de Marcellin Talbot. Tradução de Alfredo Henrique da Silva. Introdução por Roger Lundin