Talvez um dia quando me perceberem o tempo já tenha passado e como folha seca levada pelo vento eu já tenha passado no tempo que ao acaso, numa cova rasa, tenha me tornado humo; quem sabe eu já tenha até perdido o prumo, e a contragosto, ande curvado como que procurando no pó aqueles que foram antes de mim. Não que eu quisesse assim, é culpa das muitas quadras anteriores que a mim impusera à revelia, as dores e a óbice do momento. Mira-me, enquanto teimo existir! E não tente divisar-me após os dentes da engrenagem do tempo já me terem carcomido tornando-me rubiginoso decrépito e macerado.
Dedica-te ao meu estado hoje enquanto a vivacidade é o arcabouço que me sustenta a alma e me faz recalcitrar pelo direito a vida. De nada me servirá tuas homenagens póstumas, mas faça de mim enquanto vivo um adesivo grudado em teu coração. Chore comigo agora, e seja presença certa em minha solitude, pois, não sentirei a tua presença à minha lápide rasa e rude, nem a rosa deixada, no granito frio do meu intermúndio. Meu apodítico latifúndio.
Fite o sorriso mais sem graça que sorrio agora e ria das bobagens mais bobas que importo do imo pueril de minha alma, talvez assim, quem sabe, possas evitar no futuro o esforço imane de trazer-te à memória momentos que não destes o menor valor. Ei! Estou aqui, perceba-me, estou passando por ti! Caminhe comigo de mãos dadas pela chuva fina e cante comigo aquela canção que ouço tanto. Assista a um filme comigo e não despreze a lágrima que abri de meus olhos egro macerados pela ampulheta do tempo. Eu até aguento, se rires, pois te lembrarás desse momento quando eu não mais existir.
Um dia, como tudo que passa, eu terei passado porque não estarei mais aqui e, por conta do tempo do verbo, estarei nalgum lugar, pois, meu futuro não mais existirá; e o meu passado, será o meu presente. Bom, ou ruim, será sempre assim, para mim, e para todos os filhos de Adão... Então! Estou aqui, mira-me!